The Baggios entra em nova fase com o lançamento de "Quareterna Serigy"

6:00 PM

The Baggios - Felipe Diniz

Após cerca de dois anos do lançamento do álbum “Vulcão”, indicado ao Grammy Latino 2019, o trio sergipano divulgou a inédita “Quareterna Serigy”. A nova música é cheia de coros e mostra enfático posicionamento político, com participações especiais.

Por: Ingrid Natalie (instagram: @femalerocksquad)

Aproximadamente dois anos após do lançamento do álbum “Vulcão”, indicado ao Grammy Latino 2019, a banda sergipana The Baggios divulgou recentemente a inédita “Quareterna Serigy”. A nova música, recheado de coros, exibe o forte posicionamento político, percorre novas direções sonoras, mesclando elementos do cancioneiro brasileiro, e valoriza harmonias vocais. 

Como propõe no título, Júlio Andrade (voz, guitarra, violão, contrabaixo elétrico), Gabriel Perninha (bateria) e Rafael Ramos (teclas, contrabaixo elétrico) escreveram a música no decorrer do isolamento social imposto pela quarentena. “‘Quareterna Serigy nasce de um momento atípico, com todo mundo transformado – a situação mexe com o emocional e o intelecto”, destaca o vocalista e guitarrista.

“Quarentena Serigy” se refere sobre a importância cooperação entre as pessoas e mostrar mais empatia; falam da saudade dos encontros afetuosos com seus entes queridos e a respeito de procurar compreender a solidão para ver esse novo mundo como uma chance de mergulho mais fundo no seu interior.

Violões, pianos, arranjos de cordas com o timbre sombrio do Melotron se unem as vozes das participações especiais dos incríveis cantores e compositores sergipanos Alex Sant’anna, Diane Veloso, Luno Torres, Arthur Matos e Sandyalê.

Porém, o novo lançamento também sinaliza para os fãs que The Baggios está próximo do sucessor sucessor do álbum "Vulcão" (2018) que levou o trio a indicações ao Grammy, uma turnê na Europa e inúmeros shows ao redor do Brasil. “Nunca estagnamos num único formato de música e esse é o início de uma transição para um possível próximo álbum”, revela Júlio. De acordo com o frontman, canções compostas durante a gravação de "Vulcão" e outras inéditas serão lançadas ao longo de 2020.

Veja a nossa entrevista com o simpático Júlio Andrade que nos contou mais sobre o processo de produção do novo single e planos futuros para a banda:

FRS: The Baggios se manteve bastante ativo durante esse período de distanciamento social. Qual foi o sentimento da banda logo no início da quarentena?

Júlio Andrade: No início da quarentena a gente não tinha muita noção de quanto tempo iria durar. Eu chutava dois meses no máximo. Isso era final de fevereiro. Nós fizemos show em São Paulo e logo voltamos para ficarmos confinados em Sergipe. O sentimento foi de incerteza. A turnê na Europa estava comprometida desde então. Rolou uma tensão, pois era uma turnê muito esperada por nós. Já estava tudo armado. Tínhamos 32 shows marcados. Ficou a expectativa das coisas voltarem ao normal e da gente conseguir voltar a ensaiar, a tocar e fazer novos sons. Mas, no final das contas não aconteceu e não sabemos quando tudo isso realmente irá acabar, apesar de nos manter em contato sempre. Eu converso com o Gabriel e o Rafa todos os dias. Nós compartilhamos músicas e dicas do que fazer, sempre nos ajudando e mantendo o contato com a nossa rede de amigos. E o mais importante, estamos todos vivos. 

FRS: Vocês se adaptaram incrivelmente bem ao modelo de "lives", inclusive sendo uma das principais atrações do festival digital "Global Music Fest". Como vocês avaliam essa experiência?

Júlio Andrade: O mais legal da tecnologia é esse leque possibilidades que ela nos oferece para podermos nos adaptar a um novo mundo. Com toda essas limitações a gente conseguiu fazer algo, dentro dos nossos limites até de equipamento mesmo. E foi legal porque foi um aprendizado. É muito bom tratar isso como uma experiência que soma com o que a gente já tem de conhecimento a um novo desafio. Além disso, a gente sempre tem acompanhado lives inovadoras. Com isso a gente vai se motivando a produzir um novo material, mesmo que a distância. Inclusive, no dia 25 de julho faremos uma live todos juntos. Ficamos preocupados em não ter o contato físico, mas achamos um local com uma estrutura muito boa. Vamos conseguir fazer com toda segurança e qualidade de som e iluminação de qualidade. Será uma live onde arrecadaremos fundos para ajudarmos todos os músicos que fazem shows conosco e nos apoiam e que principalmente não tem um emprego fixo e nossos técnicos que estão no mesmo barco que dependem exclusivamente de música para sobreviver. Infelizmente, não temos outro meio de renda também e isso faz muita falta no nosso dia a dia tanto na parte financeira quanto emocional e até espiritual.

 FRS: O novo single "Quareterna Serigy" obviamente aborda questões sobre esse momento de quarentena que estamos vivendo. Como foi o processo de composição do single?

Júlio: Eu tenho usado bastante o meu tempo para compor, aprender a criar novas formas de composição e brincar muito com samples. Eu venho explorando coisas que não tinha explorado antes e saio de uma fórmula. Eu acho chato se repetir e adotar uma fórmula fixa. Acho massa quando as coisas se tornam diferentes, mas mas sem sair da essência do projeto e do que gosto de fazer. 

"Quareterna Serigy" foi um fruto disso, da busca por se reinventar e falar também sobre coisas que são invetáveis. A música exorciza esse sentimento. Essa indignação com o presidente por exemplo, e a vontade de encontrar os amigos pra uma aventura noturna, tomar uma cerveja em um boteco, fazer turnês. Mas também é isso...a música acaba sendo uma ferramenta de estímulo e de repente até de trazer uma fagulha para as pessoas se reanimarem. É muito fácil as pessoas entrarem numa "bad" e ficarem deprimidas nesses tempos. Então, eu também tenho esse compromisso de escrever coisas com responsabilidade e com o intuito de fortalecer o movimento. Trouxe cinco representantes da música contemporânea sergipana: Alex Sant’anna, Diane Veloso, Luno Torres, Arthur Matos e Sandyalê. São pessoas com quem convivemos a muito tempo e admiramos muito eles. Foi uma forma de aumentar o coro e falar dos sonhos. 

Ficou cada vez mais claro pra mim que o sonho é aquele desejo que vem da alma, que a gente almeja e que parece impossível. Mas, sempre é possível. Eu sou um exemplo vivo disso. Eu nasci no interior de Sergipe e em uma cidade que não tinha nenhuma cultura relacionada ao que eu faço como instrumentista e compositor. Não tenho nenhum membro na família que tocasse algum instrumento e tal. De repente, me vi com um sonho de montar uma banda, de fazer shows. Tudo isso, mesmo que fosse improvável naquele período e aqui estou eu dando uma entrevista. Isso é massa! Eu gosto de passar esse exemplo para as pessoas. O bom que a gente pode sonhar ainda. Não é pago. É nosso e íntimo da nossa alma, do nosso âmago. 

FRS: A música também traz as participações dos cantores e compositores sergipanos Alex Sant’anna, Diane Veloso, Luno Torres, Arthur Matos e Sandyalê. Como foi trabalhar com eles?

Júlio Andrade: Com esse processo de me reinventar. Eu acabei gravando em casa violões e vozes e mandei para o Gabriel, emprestei meus microfones para ele e assim gravamos a bateria com tudo que ele tem em casa, pois ele também da aula de bateria, depois eu fiz uma pré mixagem. De pegar um instrumento e somar com o que já gravou e depois mandar pra outro. Mesma coisa aconteceu com as participações. Cada um em sua casa e com microfones diferentes e de jeito diferente. Isso foi massa, pois meio que funciona também. Ver que a gente tem essa sorte de contar com a internet e com meios de comunicação eficientes pra poder fazer uma música a distância. Foi ótimo trabalhar com eles. São queridos, trabalham muito e são pessoas que eu torço muito que saiam dessa bolha de Sergipe e que pessoas de outras regiões do Brasil e do mundo conheçam as músicas deles. São amigos e pessoas que eu admiro. 

FRS: Um dos trechos mais impactes da música é "que bom que eu ainda posso sonhar". Qual o maior sonho da banda?

Júlio Andrade: Tudo que aconteceu até hoje com a banda foi de forma espontânea. Quando formei a The Baggios lá em 2004, eu só queria ir pro estúdio. Meu desejo maior era somente ensaiar e ligar a guitarra alta, porque eu não tinha amplificador em casa. Depois, quis começar a fazer shows em São Cristóvão mesmo e Aracaju, que era a nossa grande meta: tocar para um público que era o mais engajado com o movimento da música e onde a gente frequentava para ver shows. Na verdade, meu grande sonho é continuar com essa vontade de continuar compondo e aprendendo e se reinventando. É algo que eu dedico mais da metade da minha vida. A música me pegou quando eu tinha 13 anos, hoje tenho 34. Tenho mais de 20 anos dedicado a essa arte. Meu sonho é continuar lançando discos até envelhecer e ter o reconhecimento que seja merecido. Quando a gente faz música quer que a música chegue o mais longe possível. 

FRS: O que o futuro, pós-pandemia, reserva para o The Baggios?

Júlio Andrade: A banda toda tem a intenção de produzir coisas e até gravar algo até o final do ano. Os fãs podem esperar muita guitarras riffs, experimentos sonoros e música brasileira para o próximo álbum e também posicionamento político. A música é uma forma muito forte de expressão. A arte no geral é um meio muito forte de conscientizar as pessoas e deixar as pessoas mais inteligentes. São direções que podem trazer reflexões para um disco. 

Ouça "Quarterna Serigy":

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