Mama Feet traz guitarras pesadas e um humor cheio de referências em álbum de estreia

2:11 PM


Banda carioca conta sobre sua carreira e lançamento do primeiro disco, Brazilian Democracy. O álbum está repleto de piadas cantadas, glamour pop rock, cerveja barata e referências a filmes 

Texto: Ingrid Natalie (twitter: @ingridnatalie)

O rock'n'roll e o humor sempre tiveram uma boa relação e isso, podemos encontrar na ess do Mama Feet. A banda carioca formada pelos irmãos Fey e Mylo Samp, Tynho Campo Grande e Tommy Lee Dick lançou em setembro seu disco de estreia, "Brazilian Democracy".  Eles afirmam que o trabalho foi inspirado nas "arranjos pesados" de Mariah Carey, nos "acordes únicos" do KLB e no "ritmo ragatanga" de David Gilmour. O que nos dá uma prévia de um som bem peculiar e engraçado da banda.

O registro de estúdio levou aproximadamente 3 anos para tomar forma. De acordo com a banda, algumas composições estavam engavetadas há certo tempo e outras foram feitas durante sessões de gravação. "Brazilian Democracy" traz 12 faixas em português e 12 em inglês, além de mais duas exclusivas para cada língua, totalizando 28 músicas inéditas. O interessante é que as faixas se cruzam nas duas línguas trazendo personagens de uma mesma estória, em visões diferentes.

A produção, gravação e mixagem do álbum se deram de forma totalmente independente. O Fey's Garage Studio – estúdio do Mama Feet - foi reformado e transformado em espaço para os ensaios e as gravações do disco. A propósito, a reforma do local quase resultou em uma prisão para os integrantes da banda, incidente relatado na música “Pesadelo Fiscal”. Confira a entrevista exclusiva que tivemos com Mama Feet que nos contou sobre a criação do "Brazilian Democracy" e os próximos passos da banda:

FRS: "Brazilian Democracy" foi produzido, gravado e mixado no próprio estúdio da banda. Qual a importância de ter essa total liberdade de criação?

MF: Quando você entra pra gravar num estúdio de alguém, fica pilhado em acertar de primeira, em não jogar tempo fora, em ouvir o que o técnico acha, em fazer o que foi ali pra fazer e não "perder" tempo experimentando coisas "fora do que já foi ensaiado". Afinal, banda independente gravando seu primeiro disco sempre sofre pra pagar as contas. Basta inverter tudo o que foi dito acima pra perceber como gravar no seu próprio espaço pode te fazer relaxar e descobrir coisas que fazem toda a diferença no resultado. Muitas vezes você não tem os melhores equipamentos no seu estúdio, mas acaba sendo um melhor artista, e isso reflete na música.

O primeiro single "Fogo de Palha/ Lightfire" foi lançado em 8 julho. Ouça a música:


FRS: Soubemos que a reforma do Fey's Garage Studio quase causou um problema sério para a banda. Pode nos contar mais sobre o incidente e como ele inspirou a música "Pesadelo Fiscal"?

MF: (Risos) Calafrios só de lembrar. Quando decidimos transformar a garagem de ensaio em local de gravação, foi preciso otimizar o uso do dinheiro que tínhamos (prêmio de um festival com a banda antiga (a falecida Abstratus), nossas contas correntes, ajuda materna e, é claro, o cheque especial oficial do Mama: o do Fey. Como dizem por aí, - não - sabemos se é verdade. é muito caro comprar equipamentos de gravação de qualidade no Brasil. Aí pensamos: comprar coisas piores pagando "muitos dinheiros" (sendo quase tudo imposto) ou ir lá fora comprar coisas fodas pagando os mesmos "muitos dinheiros" (rezando pra alfândega ter dor de barriga na nossa volta e sumir)? Como bons inconsequentes, escolhemos a segunda opção, passamos dias comendo mal e dormindo apertado pra trazer o máximo de coisas possível. Mas a tragédia estava anunciada, a alfândega não só fez o trabalho dela, como fez da forma mais sinistra já vista. Na nossa chegada, estava rolando uma "Operação Padrão", tipo uma Lei Seca da Receita.. sério, foram as piores 2 horas da nossa vida. Diz a lenda que o Itaú tem uma estátua do Fey na agência 0281, pois até hoje (3 anos depois) ele sofre com os juros usados dos impostos da nossa missão "Argo",

FRS: Por que vocês optaram por fazer um álbum bilíngue?

MF: Porque sim. "Sim" e "podemos". Essa foi a ideia por trás desse desafio. Sempre nos deparávamos com a dúvida "cantar rock em português ou inglês". Gostamos dos dois, mas o mimimi já nos cansou. Tem o chato A que reclama do brasileiro cantando em inglês, tem o chato B que reclama que rock em português é caído, tem o mundo com umas 3 bilhões de pessoas consumindo em inglês e só uns 250 milhões em português". Enfim, dúvidas conceituais e de mercado nos tomavam. Mas o fato é que nós mesmos não conseguíamos saber o que preferíamos por uma questão simples: alguns versos vinham em português, outros em inglês... e agora? Ter um estúdio próprio mudou tudo, assumimos o desafio de compor no idioma que a música "pedisse", depois fazíamos uma versão na outra língua e pronto. Acabou a dúvida. Foi ótimo em todos os sentidos, menos pra decorar tanta letra (risos). De vez em quando versos são misturados nos shows, mas se nos perguntarem, é sempre proposital.

FRS: Vocês descrevem "Brazilian Democracy" como se fosse um filme, as músicas trazem enredos que se complementam. Quais foram os principais desafios em compor o álbum como uma narrativa?

MF: O principal desafio foi levantar a cabeça na técnica do estúdio e dar de cara com uma foto do Pink Floyd (risos). "The Wall" é uma das maiores obras da história e eles estavam ali nos acompanhando nas nossas loucuras. Brincadeiras a parte, o principal desafio foi não ficar ansioso e deixar as músicas nascerem com seus personagens como se fosse únicas e só depois fazer a devida ligação com as histórias já existentes, adaptando o que fosse preciso. Para não nos perdermos, fizemos planilhas com os personagens e as músicas em que apareciam, roteiros de clipes (que ainda serão gravados)... pensamos como um filme. Isso acabou ajudando a tarefa de fazer versão em duas línguas, pois o foco passou a ser "contar a história" em outro idioma, e não "fazer uma tradução". Nos deu liberdade. 

FRS: Aliás, vocês têm feito a divulgação do álbum de forma bastante irreverente recriando cenas do universo pop como capas de discos famosos e cenas de filmes. Como aconteceu o processo de concepção das fotos?

MF: Em função dessa foto do Pink Floyd que citei. Olhávamos pra ela e pensávamos "um dia bora fazer uma foto igual a essa, é linda". Isso foi a semente pra ideia de fazer várias fotos. Daí pra "fazer uma pra cada música" foi uma evolução natural, pois a pergunta "quantas fotos faremos" rapidamente foi respondida. A partir disso, selecionamos umas 50 fotos que nos marcaram de alguma forma... Seja por conta de algo sério ou zoação. O processo foi lindo, em 3 meses, comprávamos tudo no Saara (mercado popular no centro do RJ) e marcávamos com nosso amigo/fotógrafo Marcio Freitas. A cada dia fazíamos duas ou três fotos morrendo de rir. Em breve faremos uma "mesa redonda" do Mama, pra relembrarmos e compartilharmos todos os detalhes desse período maravilhoso.

A banda recriou cenas do universo pop como capas de discos famosos e cenas de filmes. Um exemplo é essa paródia do da capa do disco Teenage Dream, da Katy Perry. Foto: Marcio Freitas

A clássica capa de "Nevermind" do Nirvana também não poderia ficar de fora. Foto: Marcio Freitas
FRS: Na sua opinião, como o humor e o rock se ligam? Falta mais irreverência para o rock atual?

MF: Qualquer forma de arte (música, pintura, filme, teatro...) está ligada a um ou mais sentimentos (raiva, alegria, tristeza...). Percebemos que a arte é, de fato, interessante de fazer e de consumir quando retrata algo verdadeiro. Pra nós, no momento de concepção do "Brazilian Democracy", algo verdadeiro foi beber cerveja e energético todas a noites pra escrever histórias doidas de diversos tipos de personagens. O humor foi algo natural inerente à nossa personalidade quando nos juntamos. Ele também nos deu espaço pra desenvolver os personagens sem medo. Tem de tudo nas histórias do disco e, pasmem, muitas coisas foram censuradas por nós mesmos (risos).

FRS: Finalmente, quais serão os próximos passos do Mama Feet?

MF: Definir a próxima grande meta do Mama. A primeira foi ousada e levou muito tempo, mas nos deu mais força pra próxima.


Ouça o álbum na íntegra:



Onde encontrar Mama Feet na Web

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