Julie Neff quer fechar os machucados do passado e trilhar novos sonhos para o futuro

10:00 AM

Julie Neff - Foto: divulgação

Cantora indie pop canadense lança single Over It com traços de brasilidade

Por: Ingrid Natalie (instagram: @femalerocksquad)

Não há fronteiras no mundo da música e esse conceito foi totalmente abraçado por Julie Neff. A cantora canadense vêm colecionando experiências internacionais em festivais. Em um deles, a Indie Week de 2018 realizada em Toronto, sua cidade natal, Julie teve a chance de assistir aos shows das bandas Scalene e Trampa. Pouco tempo depois, lá estava ela se apresentando no festival Festival CoMa, em Brasília, estreitando cada vez mais seus laços com a música brasileira. Em 2019, a musicista integrou a programação do SIM SP, abrindo show para Far From Alaska,de Natal (RN). Logo depois, saiu em turnê sempre convidando músicos locais para formarem suas bandas de apoio. Participou de duas noites no Sofar Sounds, no ​Rio de Janeiro​ e em ​São Paulo​, e montou uma banda só com mulheres instrumentistas para tocar no Março Feminista deste ano. 

É importante mencionar que Julie estava morando em São Paulo no início de 2020. No entanto, ela precisou voltar para seu país em razão da pandemia do corona vírus. Nem por isso a paixão dela pela música brasileira diminuiu. Ainda assim, se manteve um forte vínculo musical dessa experiência em sua criação. Em 20 de agosto, ela lançou o single "​Over It​", faixa-título de seu primeiro EP, uma música que apresenta grande inspiração no Brasil. De acordo com Julie, “Over It" retrata o momento da vida em que você se vê preso em um emprego ou em uma situação que já o desgastou, o queimou, o machucou, e você sabe que precisa se libertar disso tudo. Tudo isso ligado a uma voz potente e doce juntamente com melodias fáceis de se identificar e  que “gruda” na cabeça por vários dias.

O fato de ter vindo diversas vezes ao Brasil e ter morado uma temporada na Espanha, sempre optando por ensaiar e tocar suas músicas com artistas locais, faz com que suas composições ganham elasticidade. Julie Neff faz rock/pop indie com pinceladas das referências de novos gêneros que têm colecionado em sua pesquisa musical. 

A respeito do seu EP de estreia, Julie comenta que fez de um período caótico, um combustível para criá-lo e produzi-lo. A maturidade está no som, mas também nas letras que evidenciam sua coragem de continuar aberta para o mundo, mas trilhando um caminho mais honesto consigo mesma. ​“Quero que este disco faça aos outros o que fez por mim. Que ajude a colocar uma estaca no chão a fim de pensarmos por que as coisas não estão indo bem. Talvez até possa ser a motivação para se dar um passo, no sentido de mudar. Eu quero que as músicas sejam um escoamento para a raiva, a mágoa e a frustração que nós sentimos durante o processo de entender que ‘já chega é já chega!’ - e de aprender a criar limites saudáveis para nossas vidas”, conta a cantora.

Leia a nossa entrevista com a simpática artista indie-pop canadense que nos contou tudo sobre o recente lançamento e da produção do novo EP:

FRS: Para quem está conhecendo sua música pela primeira vez, como e quando você se interessou por música? Qual foi a sua formação quando criança?

Julie Neff: Sempre adorei cantar. Quando eu era criança, muitas vezes vivia em mundos imaginários, cantando e dançando. Eu cresci em um ambiente muito cristão, então minha música freqüentemente estava na igreja ou em corais na escola. No colégio, pratiquei esportes mais do que artes, mas ainda cantava na igreja. Aprendi a cantar harmonias e a me misturar com os outros vocalistas. Quando estava na universidade, decidi focar mais na música. Eu cantava em microfone aberto com meus amigos e acabamos formando uma banda de funk / rock / reggae de 8 integrantes que se saiu muito bem em nossa cidade. Depois disso, quis encontrar minha própria voz na música. Depois de me mudar para a Espanha por um ano após a universidade, eu estava em uma situação difícil, tentando descobrir o que eu queria fazer da minha vida e, eventualmente, comecei a escrever canções. Foi uma maneira de processar emoções e me ajudar a seguir em frente na minha vida. Isso foi há cerca de 7 anos e desde então eu lentamente construí esse processo e finalmente lancei meu primeiro EP há dois anos.

FRS: Como você se descreveria como compositora? Existe algum ritual específico que você faz durante o processo de escrita?

Julie Neff: Acho que sou uma compositora muito instintiva. Nunca tive muito treinamento, então muitas vezes apenas escrevo as melodias que saem de mim e não fico muito presa aos detalhes técnicos. Normalmente estou fazendo outra coisa, como andar na rua ou dar um passeio de bicicleta e surge uma ideia. Tenho tantas anotações de voz gravadas no meu telefone, de mim andando pela rua tentando fingir que estou falando com alguém no telefone quando estou gravando uma melodia. A partir daí, normalmente tento encontrar acordes que se encaixem e desenvolver ainda mais as letras, mas isso geralmente leva tempo. Existem algumas músicas que comecei na guitarra também. Acho que meu ritual principal é procrastinar até chegar ao ponto em que tudo flui para fora de mim. Às vezes preciso que a pressão cresça um pouco. Não sei se essa é uma "boa" maneira de escrever, mas parece funcionar para mim.

Julie Neff - Foto: Valentina Caballero

FRS: Desde seu show no CoMA Festival em 2018, você se inspirou na música brasileira. Quais foram os artistas que mais chamaram sua atenção?

Julie Neff: Eu fui apresentada principalmente a artistas independentes no Brasil e é um prazer ver a quantidade de talento e paixão nesta parte da indústria musical. Tive a chance de ver Elza Soares no CoMA também e foi fenomenal. Em termos dos artistas que escuto do Brasil, aqui estão alguns (associei-os à minha música favorita deles): Xenia França, Ellefante, Aguaceiro, Jota-pê, Bruna negra, Far From Alaska, TUYO, Maglore, Terno Rei e Scalene. 

FRS: Você morou alguns meses em São Paulo, como foi isso para você?

Julie Neff: Acabei ficando na cidade apenas um mês e meio por causa do vírus corona. Mas eu realmente amei meu tempo lá e me senti bastante confortável. Fiquei grata por poder vivenciar mais alguns shows locais e conhecer as pessoas de uma forma mais profunda. Eu realmente valorizo ​​minhas amizades lá e foi muito difícil para mim sair. Eu também adorei a luz e a quantidade de vegetação (plantas, árvores, etc) que foram construídas dentro e ao redor das estruturas de concreto da cidade.

FRS: Quais são as principais diferenças entre o público canadense e o brasileiro?

Julie Neff: Acho que existem algumas diferenças principais entre o público canadense e o brasileiro. O primeiro é que o Canadá tem cerca de 1/10 da população do Brasil, mas com a mesma extensão de terra, então estamos mais espalhados. É difícil alcançar muitos públicos sem viajar muito. A segunda coisa é que, culturalmente, os canadenses são um pouco mais reservados e podem não ser tão expressivos sobre o que pensam sobre sua música. Eles podem ter gostado do show, mas não necessariamente virão e lhe contarão. No Brasil, minha experiência foi bem oposta. Os brasileiros não parecem conter sua paixão e carinho pela música e isso é realmente maravilhoso. Eles dirão o que gostaram na sua música e por quê. É muito encorajador ouvir que sua música está fazendo a diferença para as pessoas - especialmente nos estágios iniciais - isso me ajuda a continuar. :)

FRS: Você lançou recentemente seu novo single "Over It". Qual foi sua inspiração para as letras?

Julie Neff: Escrevi Over It há vários anos, quando estava em um trabalho realmente tóxico. A música é sobre aquele momento em que percebi que não estava progredindo naquela situação e precisava ir embora - só não sabia como ainda. Comecei a articular por que a maneira como eu estava sendo tratada naquele ambiente que não era saudável - não estava bem. Esta foi uma grande parte do processo para que eu finalmente pudesse sair.


FRS: Essa música estará em seu novo EP, o que os fãs podem esperar do novo álbum?

Julie Neff: O novo EP tem um toque um pouco mais elaborado do que meu trabalho anterior. Eu acho que na minha vida, assim como na minha música, estou vocalizando minha frustração - até mesmo raiva às vezes. 

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