Julie Neff estreia single 'fine!?' e mostra seu som mais maduro e pessoal
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| Julie Neff - Crédito: Bruna Hissae |
A cantora canadense incorpora influências brasileiras e experiências íntimas em uma faixa intensa sobre depressão, ansiedade e autoaceitação
Por: Ingrid Natalie (instagram: @femalerocksquad)
A canadense Julie Neff lança seu primeiro single do álbum de estreia, "fine!?", e já demonstra que este novo capítulo de sua carreira será marcado por profundidade emocional e experimentação sonora. Com uma relação próxima ao Brasil, onde escreveu grande parte das faixas, Julie absorveu influências sutis da cultura local, desde o aprendizado do português até a inspiração em shows e colaborações com artistas brasileiros. O resultado é um som mais maduro, com produção rica e camadas inéditas, incluindo a participação da produtora Cris Botarelli e da percussionista Lara Klaus.
Em "fine!?", Julie transforma experiências íntimas — a luta contra depressão, ansiedade e dores crônicas — em música e imagem. O clipe, dirigido por Jader Chahine e co-dirigido por Pedro Lacerda, incorpora referências ao Kintsugi e elementos dourados, simbolizando a beleza encontrada na reparação de nossas fragilidades. Com vocais intensos, sobreposição de sons e uma narrativa que cresce em caos até o final, a faixa oferece tanto catarse quanto identificação, convidando o público a reconhecer suas próprias imperfeições e a buscar conexão e apoio.
“Espero que as pessoas se sintam compreendidas e possam liberar um pouco da dor e frustração através da música”, diz Julie. “É um passo para permitir que todos sejam imperfeitos e honestos consigo mesmos.” Com essa mistura de vulnerabilidade, energia e sofisticação estética, "fine!?" já mostra que o álbum de estreia, previsto para 2026, será um retrato honesto e poderoso da artista que finalmente encontrou sua voz e sonoridade.
FRS: Você mantém uma relação próxima com o Brasil há alguns anos. De que forma essa vivência influenciou seu som e sua estética no novo álbum?
Julie Neff: Eu escrevi muitas das músicas enquanto ainda morava no Brasil. A influência geralmente acontece de maneiras sutis, por exemplo, ao aprender português, ampliei meu alcance fonético. Além disso, todos os shows que assisti e bandas com as quais trabalhei me fizeram sentir muito inspirada a me aperfeiçoar musicalmente e explorar sons diferentes. No álbum a ser lançado isso se reflete na composição, nas experiências que vivi e nas colaborações. Trazer a Cris Botarelli para a produção expandiu o espaço criativo do disco. A Lara Klaus, uma percussionista brasileira baseada no Canadá, também participou, ela colaborou mais nas outras faixas do álbum, ainda inéditas. Isso deu muita profundidade e emoção extra às músicas.
FRS: "fine!?" é o primeiro single do seu álbum de estreia, previsto para 2026. O que esse disco revela sobre você que seus EPs anteriores ainda não revelavam?
Julie Neff: Neste álbum sinto que realmente encontrei o meu som. Os EPs são uma ótima maneira de explorar estilos de expressão para finalmente encontrar o som que se procura. O álbum integra a potência emocional que transmito com a minha voz e composições, juntamente com uma profundidade de produção que nunca tive antes. Tivemos o luxo de poder dedicar tempo e contar com a contribuição de muitas pessoas talentosas, o que só aumenta a riqueza do som.
FRS: Trabalhar com Cris Botarelli na produção do single trouxe novas camadas para seu som? Que tipo de direcionamento ela acrescentou ao projeto?
Julie Neff: Nossa, sim. Cris é uma das pessoas mais talentosas e criativas que conheço. Ela tem uma formação musical muito rica e uma mente muito aberta e criativa. Essa é a combinação perfeita em um produtor. Ela passou muito tempo comigo, tanto no Brasil quanto no Canadá, coletando referências e entendendo tudo o que eu queria expressar. Ela combinou esse conhecimento e amor pelas músicas com sua própria perspectiva criativa e teve algumas ideias realmente únicas para a produção. Ela sempre encontrou uma maneira para que eu pudesse permanecer fiel à emoção de cada música, ao mesmo tempo em que elevava a produção. Em um determinado momento, acabamos gravando percussão com uma caixa de chicletes Nerds. Não havia limites na hora de criar um som legal.
FRS: Você comenta que "fine!?" representa “o sentimento incômodo de tentar parecer bem enquanto se está vivendo depressão e ansiedade”. Como foi transformar essa experiência íntima em música?
Julie Neff: Nunca é fácil se colocar tão vulnerável. Vou começar por aí. Mas o motivo pelo qual componho, antes de tudo, é para conseguir processar o que estou vivendo. Quanto mais eu converso com as pessoas, mais percebo que elas frequentemente passam por questões parecidas – e é muito terapêutico saber que não estamos sozinhos nessas experiências. Então, escrever é uma ótima forma de expressar esses sentimentos de frustração e desespero, e cantar é outra maneira de sentir uma certa catarse. Compartilhar essa música tem sido muito legal. Embora eu nunca deseje que alguém passe por problemas de saúde, é bom saber que existe um pequeno conforto em ouvir uma música que ressoa com a experiência de alguém. E agora é até divertido ter uma música tão enérgica para cantar sobre isso haha.
FRS: A faixa aumenta de intensidade, seguindo a inspiração do clipe de “Send My Love”, da Adele. Em que momento você decidiu que essa construção de caos seria fundamental para a narrativa da música?
Julie Neff: Acho que compor sempre foi assim pra mim, mas isso definitivamente ganhou forma durante a produção. Gravamos grande parte dos vocais primeiro – o que geralmente é o oposto do processo normal – e eu queria muitos sons “estressantes” ali: respirações fortes, sussurros, gritos, tudo em camadas. Para o clipe, pareceu apenas uma extensão natural do que já havíamos criado. Viver com dor crônica e problemas de saúde realmente pode ser assim. Em alguns dias, você passa por tudo: dor excruciante, alegria profunda, lágrimas de tristeza e conversas normais. A vida é feita de camadas, e poder expressar toda essa gama de experiências é algo muito útil e, nesse caso, resultou em um vídeo realmente bonito.
FRS: O clipe de "fine!?" incorpora elementos dourados e referências ao Kintsugi. Por que essa estética era essencial para transmitir a mensagem da música?
Julie Neff: Kintsugi é um método de reparar cerâmica quebrada com material dourado, e essas peças anteriormente quebradas tornam-se ainda mais bonitas. É muito relevante para essa música porque demonstra que não podemos apagar completamente nossas fragilidades, mas podemos repará-las e encontrar beleza nesse processo.
FRS: Você mencionou que queria um visual mais dramático. Como foi o processo de transformar essa visão em imagens com a direção do Jader Chahine e a co-direção do Pedro Lacerda?
Julie Neff: Nossa, trabalhar com eles foi um sonho. Apresentei minha coleção de moodboards e referências, e conversamos sobre a música. Eles chegaram à filmagem com um plano claro e criaram um animatic para me mostrar o que queriam alcançar. Foi muito divertido e fácil trabalhar com eles. Pude realmente me soltar na performance durante as filmagens.
FRS: O que você espera que o público sinta ao ouvir "fine!?" — especialmente quem também vive essa dualidade entre parecer bem e não estar bem?
Espero que se sintam compreendidos de alguma forma e que talvez essa música os ajude a liberar um pouco da dor e frustração através do movimento ou cantando junto com a faixa. Em um nível ainda mais profundo, espero que eles sejam capazes de conversar com pessoas em quem confiam sobre o que está acontecendo em suas vidas, para que também possam começar a se sentir um pouco melhor.

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