Nanda Moura transforma inquietação em manifesto com o single 'Louca'
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Crédito da foto: Pedro Marques |
Depois da potente parceria com Nasi e Thaíde em “Chega!”, a cantora e guitarrista Nanda Moura segue desafiando convenções e mergulhando nas camadas mais intensas da liberdade com o lançamento de “Louca”. A faixa, produzida por Apollo Nove e co-produzida por Nasi, nasce de uma inquietação diante da caretice e da anestesia emocional dos tempos atuais — um chamado para romper filtros e viver de forma genuína.
Em entrevista ao Female Rock Squad, Nanda fala sobre as inspirações surrealistas que despertaram a criação da faixa, o diálogo entre o blues e o rock visceral que marca sua nova fase, e a arte como ferramenta de resistência. Provocante e visceral, “Louca” é mais que uma música: é um manifesto por autenticidade em um mundo cada vez mais podado.
FRS: “Louca” é descrita como um grito contra a caretice e a anestesia emocional. O que te motivou a transformar essa inquietação em música?
Nanda Moura: Eu estava vendo uma exposição sobre os 100 anos do Surrealismo, e me bateu: poxa, esses caras eram muito loucos, a 100 anos atrás! Dali pintando sonhos, Remedios Varo com suas mil referências, Max Ernst, extremamente descaralhado! O que aconteceu pra termos encaretado tanto? A sociedade tem andado em círculos, ora evolui em alguns pontos, e ali na frente retrocede em tantos outros. A caretice é um desses pontos de retrocesso. As pessoas estão auto-podadas de viver genuinamente. Tudo se tornou um grande filtro, no comportamento, nas relações, na arte. “Louca” nasceu desse desconforto, dessa vontade de provocar e dizer: “ei, viver é se permitir ser verdadeiro, pleno”. Todos temos as nossas marcas de loucura. Apenas as deixemos aparecer! O olhar do outro é do outro, não seu.
FRS: A faixa tem produção de Apollo Nove e co-produção de Nasi. Como essa parceria influenciou o resultado final da canção?
Nanda Moura: Foi uma soma muito poderosa. O Apollo trouxe uma visão mais experimental, com uma textura sonora incrível. O Nasi tem uma pegada visceral, de energia crua, e que tem tudo a ver com o arranjo que construí junto dos músicos fantásticos que me acompanham, o guitarrista Otávio Rocha, o baixista César Lago, e o baterista Gil Eduardo. Com o arranjo pronto, a visão certeira do Apollo e do Nasi fizeram a música ganhar o peso e a liberdade que ela pedia. Nós conseguimos incorporar referências do blues com o rock e uma certa estranheza que combina com o tema da música.
FRS: O clipe de “Louca” traduz visualmente esse manifesto de liberdade. Como foi o processo de criar essa estética tão visceral?
Nanda Moura: Eu queria que a imagem fosse tão intensa quanto a música. A inspiração veio muito de Salvador Dalí, dessa coisa surreal, desconfortável, que te cutuca, te faz pensar. A camisa de força é uma metáfora sobre o quanto a gente mesmo se limita por medo do julgamento. Então o clipe é um espelho, ele provoca e também revela.
FRS: Você costuma dizer que “a música não é só entretenimento”. Qual é, pra você, o papel da arte em tempos de conformismo?
Nanda Moura: A arte é, mais que tudo, uma forma de resistência. Ela cutuca, questiona, abre frestas onde antes só havia conforto. Arte que nos tira do automático, nos faz olhar de novo para aquilo que a gente acabou naturalizando. A arte não precisa ser “bonitinha” — o que ela tem que ser é honesta, viva, e acaba sendo incômoda, muitas vezes.
FRS: O título “Louca” provoca e questiona a forma como a sociedade lida com quem se recusa a viver podado. Você já sentiu esse tipo de julgamento na sua trajetória?
Nanda Moura: Quem nunca? Hoje o que mais se faz é “jogar pra plateia”, levantar qualquer bandeira pra ser aceito. Quando você foge do que se espera, inevitavelmente fica “meio esquisita”... A loucura, nesse sentido, é colocar a cara, passar uma mensagem, mesmo que isso incomode.
FRS: Depois de “Chega!” e agora com “Louca”, podemos esperar um novo capítulo — talvez um álbum ou turnê — nessa fase mais rebelde e libertária da sua carreira?
Nanda Moura: Eu tenho explorado novas sonoridades, com mais peso e liberdade, mas sempre mantendo a essência do blues, que é onde tudo começa pra mim. Tenho mais algumas músicas no forno, em português, que quero levar pro palco. Estou com um show que é uma experiência não só sonora, mas também visual e emocional. “Louca” é a segunda música de um álbum inteiro que sairá aos poucos, nos próximos meses, e é só o primeiro grito dessa nova etapa.
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