Otherside: análise de vídeo, letra e arranjo

1:12 AM



 Por: Karen Batista

Análise: "Otherside", Red Hot Chili Peppers

Baseado em um ambiente com influências estéticas fortes de movimentos artísticos como o Expressionismo Alemão, Surrealismo e Cubismo, o clipe de "Otherside" é uma viagem angustiante através de cenas cada vez mais absurdas e que reflete, assim como a letra, a frustração pela não-solução de situações existenciais.



A letra, repleta de versos aparentemente desconexos, após uma primeira, segunda, décima, quinquagésima análise, talvez não possua um sentido muito claro. A profusão de versos e expressões ou sem ligação entre si ou crípticos o bastante para levarem a crer que façam sentido apenas para o autor são características marcantes da obra de Anthony Kiedis como poeta, possivelmente refletindo o caos de sua própria existência conturbada, e "Otherside" talvez seja a expressão simbolicamente mais forte disto.

O universo do videoclipe de "Otherside" constitui-se por ambientes e objetos angulosos, e marcados por sombras contrastantes, referenciando justamente a estética do filme alemão "O Consultório do Doutor Caligari", de 1927. Neste filme, essa realidade distorcida é justamente uma representação de um mundo criado pelo delírio do protagonista numa tentativa de explicar e resolver seus próprios conflitos internos.


E a letra de "Otherside" possui várias referências a situações existenciais não-resolvidas que levam a um ciclo eterno de angústia e incompletude do Eu Lírico, por exemplo:  arrependimentos pelo passado ("I heard your voice through a photograph/I thought it up and brought up the past"), cobranças externas por seus "defeitos" ("she wants to know am I still a slut"), a necessidade inexorável de arcar com as consequências dos atos ("push the trigger and pull the thread"), a postergação da solução de seus problemas com falsas e vagas soluções ("I've got to take it on the otherside"), angústia por esse ciclo não terminar ("how long, how long will I slide?"), a percepção de que não parece existir uma solução ("I tear it down, I tear it down and then it's born again") e o final vago e inconclusivo de quem não sabe qual a solução para seus problemas existenciais, e sequer existe solução que não a morte ("slit my throat / it's all I ever...").

E finalmente o arranjo, num crescendo em intensidade, especialmente com os backing vocals e a sonoridade nervosa da guitarra de John Frusciante vem a justamente reforçar a ideia de uma angústia crescente, que explode na bridge ("Turn me on take me for a hard ride...") da música e no último refrão termina tão bruscamente como o último verso - "It's all I ever..." gramaticalmente é uma frase incompleta - como a sugerir, quem sabe, a morte do Eu Lírico, podendo ser essa morte física, definitiva ou - para desespero do Eu Lírico - apenas um breve encerramento do ciclo para que ele recomece, ad infinitum...

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